Cores que contam histórias
A cor sempre esteve nas discussões de pensadores, artistas e estudiosos do assunto. Alguns a associavam meramente à forma. “Isso é limitação”, bradavam os seus defensores. “Ora, a cor é muito mais”, diziam. Outros, priorizavam mesmo o formato. A verdade é que os dois pontos de vista motivaram debates intelectuais que ajudaram a construir a história da arte. E, através dela, artistas atraídos pelos dois temas que oscilavam entre as obras de alguns de seus antecessores, basearam seus trabalhos na junção de ambos. É o que apresenta a coletiva “A Matéria da Cor”, que entra em cartaz no dia 3 de abril, às 19h (gallery night), na galeria Raquel Arnaud (o evento acontece paralelamente à SP-Arte).
Com curadoria do francês Franck Marlot – tutor das obras da família Picasso -, a mostra reúne as criações de 13 artistas célebres (entre eles, 10 compõem o elenco da galeria) que fizeram da cor a sua preocupação basilar: Josef Albers, Sonia Delaunay, Yves Klein, Vincent Beaurin, Waltercio Caldas, Carlos Cruz-Díez, Raúl Díaz Reyes, Carlos Fajardo, Herbert Hamak, Carlos Nunes, Arthur Luiz Piza, Wolfram Ullrich e Renato Bezerra de Mello.
Os visitantes poderão contemplar, entre outras obras, uma parede pintada com gemas de ovo, faceta assinada pelo paulista Carlos Nunes, que já expôs seus trabalhos em países como Portugal, Argentina, Madrid e Japão. Outra ala é reservada “ao homem que inventou uma cor”, Yves Klein (1928 – 1962), que recebe esta aferição por sua obra-manifesto A Terra Azul (1957, que deu origem a cor IKB, patenteada por ele), onde declarou que o globo era inteiro desta mesma tonalidade, antecipando-se a Yuri Gagarin (1934 – 1968), primeiro homem a viajar pelo espaço e que confirmaria a previsão do artista anos mais tarde. Do pioneiro da Bauhaus, o alemão Josef Albers (1988-1976), estão expostas duas grandes serigrafias intituladas Homenagem ao Quadrado. As peças nasceram da pesquisa que permeou toda a sua obra e que consistia, de acordo com o curador da mostra, entre outros pontos, “na experiência pessoal do que podemos sentir e do único instrumento de medida da cor: nossos olhos”.
Na ocasião, também serão apresentados ao público outros trabalhos emblemáticos como as guaches e estênceis da ucraniana (naturalizada francesa) Sonia Delaunay (1885-1979), a instalação histórica Transcromia de Carlos Cruz-Díez, apresentada pela primeira vez em 1981 no Museu de Caracas – na qual um labirinto absorve a luz do espaço até a sua saturação. E a escultura dobrada de folhas de alumínio concebida por Raúl Díaz Reyes, cuja anatomia do trabalho já foi comparada a obra da mineira Lygia Clark (1920-1988), ao passo em que sua estética faz lembrar algumas das produções da arquiteta Zaha Hadid (1950-2016), segundo o crítico de arte Tobi Maier.
Em cartaz até o dia 27 de maio, a exposição apresenta, ainda, muitos outros trabalhos de artistas que fizeram história e imersões em obras até então inéditas no Brasil.
SERVIÇO – COLETIVA A MATÉRIA DA COR
ONDE?
R. Fidalga, 125 – Vila Madalena, São Paulo
QUANDO?
De 3 de abril a 27 de maio de 2017
Segunda a sexta – 10H ÀS 19H
Sábado 12H ÀS 16H